É falso que as vacinas contra Covid-19 causam efeitos colaterais em todo o organismo

Publicado originalmente em Agência Lupa por Gabriela Soares. Para acessar, clique aqui.

Circula na internet o vídeo de uma conferência realizada por médicos japoneses, que alegam que as vacinas contra Covid-19 são tóxicas e causam danos a “todos os órgãos, sem exceção”.  É falso. 

Por meio do ?projeto de verificação de notícias?, usuários do Facebook solicitaram que esse material fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa?:

“Milhares de artigos revelam efeitos colaterais após a vacinação, que afetam todos os órgãos, sem exceção”

– Fala em vídeo que circula nas redes sociais

Falso

Não há evidências de que as vacinas causem efeitos colaterais “que afetam todos os órgãos”. Todos os imunizantes contra a Covid-19 aplicados no Brasil — incluindo os que utilizam a tecnologia de RNA mensageiro —, são comprovadamente seguras e eficazes, conforme esclarece a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)

Em nota, a Organização Mundial da Saúde (OMS), que analisou o vídeo, negou os efeitos colaterais apontados na publicação e ressaltou a importância dos imunizantes. “O que as evidências científicas de alta qualidade realmente apontam é que as vacinas treinam o nosso sistema imunológico para criar proteínas que combatem as doenças, conhecidas como ‘anticorpos’”, esclareceu a organização. 

O médico infectologista e professor do Departamento de Infectologia da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Alexandre Naime Barbosa, coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia, explica que, assim como qualquer outro medicamento, as vacinas têm efeitos colaterais, contudo, na grande maioria dos casos esses efeitos são leves — informação também reforçada pelo Ministério da Saúde

Um estudo publicado pela revista científica Vaccine, da Sociedade Japonesa de Vacinologia, em 12 de fevereiro de 2024, citado por Naime em sua explicação, mostra que o risco de eventos adversos de interesse especial — que requerem maior preocupação e análise médica e científica (página 5) —, como miocardite e pericardite, por exemplo, está mais associado à própria infecção por Covid-19 do que com a vacinação. 

“Não faz sentido nenhum você não se vacinar por medo de efeitos adversos, porque a contaminação por Covid-19 traz uma chance muito maior de você ter esse tipo de complicação do que com a vacina”, complementou o infectologista. 

É válido reforçar ainda que os médicos japoneses não esclarecem quais artigos foram usados na análise. No vídeo, mostram apenas que eles foram retirados do site PubMed da Biblioteca Nacional de Medicina do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos. Contudo, o órgão não avalia ou endossa os artigos disponíveis na página e nem todos os estudos foram avaliados por pares — que assegura maior qualidade às pesquisas. Ou seja, não é possível determinar a qualidade das publicações usadas por eles. 

“A proteína spike [gerada pela vacina] é tóxica. Outro ponto são as nanopartículas lipídicas, que também são tóxicas”

– Texto em vídeo que circula nas redes sociais

Falso

A proteína spike é um fragmento do vírus SARS-CoV-2, responsável pela COVID-19, fabricada pelo organismo a partir dos imunizantes de RNA mensageiro. Enquanto, as nanopartículas compostas por lipídios facilitam o transporte das substâncias da vacina para dentro das células do corpo. Essa ação é pontual, durando entre 15 e 63 horas, conforme mostra o estudo publicado em setembro de 2023 na revista científica Nature. Além disso, um especialista ouvido pela Lupa negou que as substâncias sejam tóxicas.

As vacinas de RNA mensageiro têm o objetivo de “ensinar” o corpo a produzir a proteína do Sars-CoV-2 conhecida como Spike, que é responsável por ligar o vírus da Covid-19 com as nossas células. Após a imunização, ela é identificada pelo sistema imunológico como invasora e o organismo “aprende”, então, a se defender quando entra em contato com o vírus. 

Vale ressaltar que essa proteína também é produzida naturalmente pelo vírus da Covid-19, contudo, em sua versão integral e de maneira descontrolada. “Quem produz a proteína Spike é a própria infecção viral, que vai produzir a spike inteira, então se tem algum problema de toxicidade é muito maior pela infecção pelo vírus, porque ele tem uma produção muito maior de spike, e em sua estrutura completa”, explica o infectologista e professor do Departamento de Infectologia da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Alexandre Naime Barbosa, coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia.

Nesses imunizantes, o RNA mensageiro é recoberto por nanopartículas lipídicas, uma capa de gordura, que o protege da degradação. A molécula não contém qualquer outra informação e não é capaz de realizar tarefas além de produzir a proteína Spike. “E também não penetra no núcleo de nossas células, então não consegue causar a Covid-19 ou qualquer alteração em nosso genoma”, esclarece a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). Barbosa também esclareceu que não há nenhuma evidência científica de que essas nanopartículas lipídicas sejam tóxicas. 

Este conteúdo também foi verificado pelo Estadão Verifica

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