Pesquisa desenvolve nanoemulsão com óleo de manga

Publicado originalmente em Jornal Beira do Rio UFPA. Para acessar, clique aqui.

Por André Furtado Foto Alexandre de Moraes

Fruto originário da Ásia que se deu muito bem em solo brasileiro, a manga é popular, afrodisíaca e refrescante. A combinação entre o verde, o amarelo e o vermelho lhe confere uma característica única que a faz ser conhecida ao redor do mundo. No Brasil, especificamente em Belém, as mangueiras (árvore da qual a manga se desenvolve), refrescam e embelezam as ruas.

Muito se sabe sobre o sabor e as inúmeras sobremesas que podem vir da utilização da fruta, porém a farmacêutica Rosa Alcione Rodrigues Sodré foi além: com o óleo de manga, ela produziu uma nanoemulsão que pode ser aplicada na indústria cosmética e trazer inúmeros benefícios para a população.

Obtenção e caracterização de uma nanoemulsão contendo óleo de manga para aplicação tópica foi o título da dissertação de Rosa Alcione, a qual teve como objetivo desenvolver e caracterizar a nanoemulsão para, no futuro, buscar uma parceria com quem possa desenvolver produtos que a tenham como base. A pesquisadora conta que, graças às características do óleo de manga, surgiu a ideia de desenvolver um produto com aplicabilidade capilar ou tópica, mas, para se chegar a esse resultado, primeiramente, era necessária a matéria-prima – a nanoemulsão, que foi desenvolvida durante sua pesquisa de mestrado.

Uma das vantagens apresentadas com a utilização da nanoemulsão foi o aumento da hidratação da pele e de sua elasticidade, pois estamos falando de uma partícula de escala nanométrica, com maior capacidade de adentrar na pele. “O mercado já apresenta bastantes emulsões, mas elas possuem o tamanho de gotas maiores e têm dificuldade de penetrar uma superfície pequena, ficando retidas na primeira camada da pele. Dependendo do tamanho e do objetivo que se quer alcançar, a nanoemulsão pode chegar até a área em que está o colágeno”, ressalta a farmacêutica.

 Obtenção do óleo requer trabalho minucioso

O aproveitamento de constituintes não convencionais da manga pode oferecer uma alternativa ao descarte nas indústrias de sucos, em que cerca de 60% do fruto, em peso total, é descartado em grande quantidade como resíduo, por exemplo, as cascas e as sementes. O óleo utilizado no estudo para a produção da nanoemulsão advém do endocarpo da amêndoa, região fina e mais interna do fruto que protege a semente. Devido a essa característica, a obtenção desse óleo demanda um processo minucioso que exige atenção. Por esse motivo, Rosa Alcione Rodrigues Sodré contou com o apoio de empresas que lhe forneceram a matéria-prima durante o desenvolvimento da pesquisa.

A nanoemulsão contendo óleo de manga foi obtida em laboratório, em duas etapas. Rosa Alcione explica que, para chegar ao produto final, existem dois componentes que não se misturam: o óleo de manga (fase oleosa) e a água destilada (fase aquosa). Para obtenção da nanoemulsão, óleo e água são aquecidos separadamente em até 75ºC, um tensoativo é adicionado ao óleo de manga para homogeneizar óleo e água, que, ao serem misturados, não se separam mais.

Em seguida, a parte aquosa é derramada lentamente sobre a fase oleosa, em agitação constante, em um agitador magnético a 600 rpm, durante dez minutos, formando, assim, uma pré-emulsão, que é retirada rapidamente do aquecimento (após dez minutos) e submetida à agitação a 10.000 rpm, em outro equipamento, o ultraturrax, por 12 minutos. Logo após, vem o processo de resfriamento e, ao final, tem-se a nanoemulsão. Depois desse processo, a nanoemulsão é submetida a uma série de análises, denominadas físico-químicas, as quais indicarão se o produto final está ou não de acordo com o Guia de Estabilidade de Produtos Cosméticos.

O produto obteve excelentes resultados nas análises submetidas, o que indica a possibilidade e, futuramente, a nanoemulsão ser explorada comercialmente pela indústria. Contudo, para que se tenha o aval final, alguns testes ainda precisam ser realizados. “Para que a nanoemulsão com óleo de manga possa ser utilizada na indústria, é necessário fazer algumas testagens, como as de prateleira, aplicabilidade, atividade antifúngica e a de ação anti-inflamatória”, ressalta Rosa Alcione Sodré. A pesquisadora explica que, se os resultados continuarem bons, o produto de sua dissertação servirá de base para inúmeras aplicabilidades cosméticas, como hidratantes, condicionadores e protetores térmicos para a pele e o cabelo.

A autora, que também é profissional da área da beleza, explica que é difícil encontrar nanocosméticos no mercado e os poucos que existem têm os preços excessivamente elevados. Por esse motivo, Rosa Alcione considera o seu produto promissor e vantajoso em relação ao custo/benefício para o consumidor final. “No mercado, você encontra produtos com micropartículas, mas não com nano. Meu desejo é que essa tecnologia saia do laboratório e chegue logo ao consumidor”, finaliza. 

Vantagens do uso de nanoemulsões em cosméticos

  • Devido ao seu tamanho reduzido, proporcionam uma melhora na eficiência da penetração cutânea de ativos presentes na formulação (PEREIRA et al.,2016).
  • Promovem uma melhor hidratação e elasticidade da pele, possuem toque agradável e de fácil espalhabilidade (NGAN et al.,2015; BRESOLINI et al., 2016).
  • Têm a possibilidade de proporcionar aumento na permeabilidade de ativo pouco solúvel (DAUDT, et al.,2013).
  • Previnem a ocorrência de floculação e coalescência das gotículas mantendo o sistema disperso e estável (TADROS et al.,2014, AGOSTINHO 2017). 

Sobre a pesquisa: A dissertação Obtenção e caracterização de uma nanoemulsão contendo óleo de manga para aplicação tópica foi defendida por Rosa Alcione Rodrigues Sodré, em 2023, no Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas (PPGCF/ICS), da Universidade Federal do Pará, com orientação do professor José Otávio Carréra Silva Júnior. Esta pesquisa contou com financiamento da Fapespa.

Beira do Rio edição 169

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