Publicado originalmente em Agência Bori. Para acessar, clique aqui.
Por Juliana Silva Corrêa
A resistência aos antimicrobianos é considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma das dez maiores ameaças à saúde global. Um Plano de Ação Global de prevenção e controle foi publicado pela OMS em 2015 para orientar os países signatários a desenvolverem suas agendas.
A resistência aos antimicrobianos ocorre quando bactérias, fungos, parasitas e vírus experimentam alterações genéticas e não respondem mais aos medicamentos utilizados para o tratamento de infecções, como antibióticos, um fenômeno natural que intensifica-se devido ao uso excessivo e inadequado de antimicrobianos. Estimativas recentes demonstram que globalmente a RAM esteve associada a quase 5 milhões de mortes. No Brasil, mais de 33 mil pessoas morreram por infecções resistentes e 137,9 mil óbitos foram associados à resistência aos antimicrobianos.
O combate à resistências ao antimicrobianos envolve ações coordenadas sobre o uso de antimicrobianos, controle e prevenção de infecções na saúde humana, animal e ambiental. Algumas ações necessárias são: políticas de regulação sobre o uso, descarte adequado de antimicrobianos, investimento em capacitação para monitoramento e vigilância, desenvolvimento e inovação para produção de novos medicamentos e vacinas.
Recentemente, o Brasil produziu o Plano de Ação Nacional de Prevenção e Controle da Resistência aos Antimicrobianos no Âmbito da Saúde Única (PAN-BR), coordenado pelo Ministério da Saúde (MS) e desenvolvido em parceria com atores como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
No entanto, há inúmeros desafios para o avanço dessa agenda no país, que passou por um período de estagnação durante a transição político-governamental em 2019 quando houve a extinção dos comitês responsáveis pelo tema no MS, MAPA e ANVISA, além da pandemia de Covid-19 em 2020, que mobilizou de recursos e aumentou o uso de antimicrobianos entre a população.
E é urgente que o tema esteja na agenda de gestores, profissionais de saúde, pacientes e sociedade, para tanto, é necessário investir e disponibilizar evidências sobre os impactos clínicos, sociais e econômicos da resistências ao antimicrobianos no contexto nacional, envolvendo a participação social.
Em paralelo, a ação ministerial com envolvimento dos governos estaduais e municipais é essencial para avançar nos debates. Desde a publicação do Plano de Ação Global, o tema é abordado em todas as reuniões na área da saúde no G20. E, a Reunião de Alto Nível da Nações Unidas sobre resistência antimicrobiana é mais uma oportunidade para que o país se aproprie de fato dessa agenda, propondo soluções mais alinhadas ao contexto dos países de baixo e médio desenvolvimento, oferecendo alternativas e soluções para a prevenção de problemas.
Sobre esse autor
Juliana Silva Corrêa é pesquisadora em saúde pública na Escola de Administração de Empresas de São Paulo na Fundação Getulio Vargas e pesquisadora associada no Instituto Paulista de Resistência aos Antimicrobianos