Publicado originalmente em Rede Amazoom por Yasmim Texeira. Para acessar, clique aqui.
Com a onda de calor no Brasil, Roraima vem enfrentando temperaturas crescentes. A hipertermia, condição perigosa relacionada ao calor, exige atenção e precauções em períodos de temperaturas elevadas.
Roraima, conhecido por suas altas temperaturas, está experimentando uma onda de calor intensificada. As temperaturas, que sempre foram elevadas, atingem agora níveis ainda mais preocupantes. A hipertermia, condição relacionada ao excesso de calor no corpo, chega como uma ameaça silenciosa, exigindo uma compreensão mais profunda e medidas preventivas por parte da população.
Nesta época em que o calor se intensifica, é crucial que a população esteja ciente dos perigos associados e tome precauções para garantir sua segurança e bem-estar.
Com o objetivo de entender melhor sobre e alertar a população com mais profundidade, o Amazoom entrevistou Gleuber Henrique Marques de Oliveira, doutor em Bioquímica e Biologia Molecular e Professor do curso de Medicina e do Mestrado em Ciências da Saúde.
Em entrevista a Yasmim Trindade e Carol Domingos (Amazoom):
Amazoom: Como a hipertermia difere da febre comum, e quais são os sinais distintivos?
Dr. Gleuber Oliveira: Ambos se caracterizam por uma elevação da temperatura corporal. Basicamente, a diferença principal é que a febre é proposital pelo corpo, enquanto a hipertermia não é. Então, na febre, o próprio organismo, o próprio corpo humano quer elevar a temperatura. Na hipertermia, o corpo não quer elevar a temperatura. Na febre, ela é ocasionada por causa de infecção, vírus, bactéria, protozoário, qualquer coisa assim. Então, essa infecção vai tentar ser combatida por N formas, Sistema imunológico e tudo mais, mas uma das formas que o nosso corpo encontra é aumentando a temperatura. E ao aumentar a temperatura, muitas das proteínas que constituem esses seres microscópicos, melhor dizendo, não são nem animais, acabam sendo desnaturadas e, assim, serão combatidas. Então, o nosso corpo recorre a esse aumento da temperatura para justamente tentar combater essas infecções. Já a hipertermia, não. Ele está tendo um ganho de calor não voluntário, ou seja, o corpo não quer isso. Seja porque está em um meio muito quente ou porque está usando agasalho, alguma coisa assim, O uso excessivo de agasalho, alguma coisa assim, e acaba que o corpo não consegue controlar isso.Então, se a gente fosse resumir em poucas palavras, a febre é proposital pelo corpo, a hipertermia não. Ambos se caracterizam por um ganho excessivo de calor, além do normal, e na hipertermia o corpo não consegue controlar. Então, é preciso controlar de uma forma, vamos dizer assim, mais mecânica.
Amazoom: Quais são os sintomas iniciais da hipertermia, e quando alguém deve procurar ajuda médica?
Dr. Gleuber Oliveira: Inicialmente, destaca-se a transpiração como o meio mais efetivo pelo qual o corpo perde calor. Assim, existem diversas formas de regulação térmica, como condução, convecção (por exemplo, ventilador por água) e radiação. Contudo, a transpiração, em especial através das glândulas sudoríferas, representa a forma mais efetiva de dissipar o calor interno do corpo, uma vez que o suor, ao evaporar, transfere o calor para o meio externo, contribuindo para a regulação da temperatura corporal. Diante de elevações excessivas de temperatura, a transpiração torna-se fundamental para manter o controle térmico. Além disso, podem ocorrer sintomas como dores de cabeça e cãibras, sendo esta última associada não apenas à hipertermia, mas também a fatores genéticos. Em casos mais graves, a elevação da temperatura corporal pode levar a tonturas, alucinações, convulsões, perda de consciência e queda da pressão arterial devido à dilatação dos vasos sanguíneos. Ao identificar sinais de hipertermia, é crucial adotar medidas para combater o aumento excessivo da temperatura, como será explicado na próxima seção.
Amazoom: Além da hidratação, quais são as medidas preventivas eficazes contra a hipertermia, especialmente em climas quentes?
Dr. Gleuber Oliveira: É crucial manter-se bem hidratado e evitar exposição direta ao sol em ambientes quentes. Se perceber que o sol está forte e a temperatura ambiente está elevada, é recomendável não permanecer diretamente sob o sol. Utilizar ventiladores, ar-condicionado e vestimentas leves que favoreçam a transpiração também são medidas eficazes para prevenir a hipertermia, pois a transpiração é uma forma essencial de dissipar o calor do corpo. No entanto, se observar que o paciente está entrando em um quadro de hipertermia, a abordagem precisa ser mais mecânica. O corpo possui o hipotálamo, responsável por regular a temperatura, mas em situações extremas, como na hipertermia, esse mecanismo pode se desregular. Portanto, medidas como banho gelado, exposição ao vento de um ventilador ou ar-condicionado, uso de toalhas molhadas ou refrigeradas e evitar a exposição ao sol são intervenções eficazes para restaurar a temperatura corporal para níveis normais. É interessante observar que medicamentos antipiréticos, que controlam a temperatura em casos de febre, geralmente não são efetivos na hipertermia. A intervenção mais eficaz nesses casos é de natureza mecânica.
Amazoom: Quais são os sinais de alerta de desidratação, e como isso está relacionado à hipertermia?
Dr. Gleuber Oliveira: A sede, embora seja um sinal clássico de desidratação, nem sempre é um indicador preciso do estado de hidratação de uma pessoa. Na realidade, quando a sensação de sede se manifesta, a pessoa já está, em média, cerca de 5% desidratada em relação ao nível adequado. Portanto, muitas vezes é aconselhável não esperar sentir sede para começar a ingerir água, a fim de evitar entrar em um estado de desidratação. Além disso, uma pessoa desidratada tende a diminuir a produção de suor, resultando em uma redução na transpiração. A escassez de água disponível leva a uma produção reduzida de suor, o que, por sua vez, resulta no acúmulo de calor no corpo. A elasticidade da pele também é diretamente influenciada pelo estado de hidratação. Em um estado desidratado, a pele torna-se mais seca, menos elástica e pode ser observada a olho nu. A falta de lubrificação nos olhos também é notável, assim como a urina extremamente concentrada e escura, indicando uma baixa ingestão de água. Em contraste, a urina bem hidratada tem uma aparência mais clara, com maior conteúdo aquoso. A boca seca e a redução na produção de saliva também são sintomas comuns de desidratação, uma vez que a saliva depende da quantidade adequada de água no organismo. Em resumo, esses sintomas indicam desidratação, e quando o corpo está desidratado, a capacidade de transpirar adequadamente é comprometida. Isso resulta no acúmulo de calor, elevação da temperatura corporal e, eventualmente, em complicações, pois o corpo perde o controle devido à escassez de água, especialmente no hipotálamo.
Principais Recomendações para Prevenção:
Hidratação Adequada: Beber água regularmente é essencial para manter o corpo resfriado. Evitar bebidas alcoólicas e cafeína, que podem levar à desidratação, é igualmente importante.
Proteção Solar: O uso de protetor solar, roupas leves e chapéus ajuda a minimizar a exposição direta ao sol, reduzindo o risco de hipertermia.
Evitar Atividades Excessivas: Reduzir a prática de atividades físicas intensas durante os períodos mais quentes do dia é uma medida prudente para evitar o superaquecimento corporal.
Procurar Ambientes Refrigerados: Buscar refúgio em locais climatizados ou sombreados durante os momentos mais quentes do dia pode ser crucial para evitar a hipertermia.
Conscientização e Monitoramento: Estar ciente dos sintomas da hipertermia e monitorar o próprio corpo, assim como o de outras pessoas, é vital para uma resposta rápida e eficaz.