Governo Lula não propôs que MEIs atuais paguem imposto três vezes maior

Publicado originalmente em Agência Lupa por Maiquel Rosauro. Para acessar, clique aqui.

Post que circula nas redes sociais alega que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está propondo um imposto para Microempreendedores Individuais (MEIs) três vezes maior que o cobrado atualmente a fim de promover um aumento de arrecadação. É falso.

Por meio do ?projeto de verificação de notícias?, usuários do Facebook solicitaram que esse material fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa?:

Governo Lula propõe imposto do MEI três vezes maior para aumentar arrecadação

– Texto em vídeo que circula nas redes sociais

Falso

O governo Lula não está propondo aumentar o imposto para os profissionais que hoje se enquadram como MEIs. O que está em discussão é a possibilidade de criar uma nova faixa de enquadramento para esse segmento, que seria ampliado, abrangendo aqueles com um faturamento anual de R$ 81 mil a R$ 144.912. 

Atualmente, a Lei Complementar nº 123/2006 (que institui o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte) considera como MEI o empresário individual que possui faturamento anual de até R$ 81 mil, é optante pelo Simples Nacional e conta com um único empregado.

A proposta de ampliação do limite de faturamento para os MEIs foi inicialmente sugerida pelo Comitê Técnico do programa, vinculado ao Fórum Permanente das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte. A iniciativa foi aprovada em 24 de agosto deste ano e agora está em discussão no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, que integra o Fórum.

De acordo com informações divulgadas pelo Ministério, a regra atual permanecerá em vigor, com os microempreendedores com faturamento de até R$ 81 mil continuando a pagar um valor fixo de imposto de 5% do salário mínimo, equivalente a R$ 66 atualmente.

A nova proposta prevê a criação de uma faixa específica para MEIs que faturam de R$ 81 mil a R$ 144.912, com uma alíquota de R$ 181,14. Esse valor representa 1,5% do valor de R$ 12.076, que corresponde ao teto mensal de faturamento proposto para os MEIs (R$ 144.912 divididos por 12 meses). Em nível de comparação, no Simples Nacional, a alíquota varia de acordo com o faturamento acumulado da empresa e com a atividade executada, podendo iniciar entre 4% (comércio) a 15,5% (serviços) e variar todos os meses.

Ou seja, o MEI que fatura até R$ 81 mil continuará pagando mensalmente R$ 66 e quem faturar de R$ 81 mil a R$ 144.912 pagará R$ 181,14 por mês (quase o triplo de R$ 66). Com o aumento do teto do faturamento, o Fórum projeta que existam no país 470 mil empresas com potencial para se transformarem em MEI, que possui modelo de tributação menos oneroso que o de uma microempresa (ME). Ou seja, o custo dos impostos passaria a ser menor se houver essa mudança.

O Fórum também propõe uma “rampa de transição”, para o empreendedor ter tempo de se adaptar às mudanças tributárias e operacionais, quando passar de MEI para ME. O microempresário que exceder o teto do faturamento em até 20% teria um prazo de 180 dias para fazer os ajustes necessários.

Contudo, em nota enviada à Lupa, o Ministério do Desenvolvimento explica que a iniciativa ainda está em avaliação na pasta e em outros órgãos governamentais envolvidos. Não há data prevista para conclusão dos estudos. “Sobre a estimativa de arrecadação, os cálculos serão realizados pelo Ministério da Fazenda”, diz o comunicado.

Debate no Congresso

Ampliar o teto de faturamento dos MEIs não é um tema novo e já tem sido discutido no Congresso. Há dois anos, o senador Jayme Campos (União Brasil-MT) protocolou o Projeto de Lei Complementar n° 108/2021, que altera o Estatuto Nacional da Microempresa, permitindo ao setor uma receita bruta anual igual ou inferior a R$ 130 mil, além de possibilitar a contratação de até dois empregados. No entanto, a iniciativa não prevê a criação de uma nova faixa de alíquota.

O Senado aprovou a proposta em agosto de 2021. A matéria, então, foi remetida para análise dos deputados federais e sofreu alterações. O relator do projeto na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara, deputado Marco Bertaiolli (PSD-SP), propôs elevar o limite de faturamento anual dos MEIs para R$ 144,9 mil e inseriu ainda o aumento do limite geral das empresas enquadradas no Simples de R$ 4,8 milhões para cerca de R$ 8,7 milhões. Nesse cenário, em maio do ano passado, a Receita Federal calculou uma perda de arrecadação de R$ 66 bilhões em 2023.

Em junho de 2022, a Comissão de Finanças e Tributação aprovou o texto de Bertaiolli. Já em agosto do ano passado, o projeto substitutivo foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ). O próximo passo será a votação no Plenário da Câmara, ainda sem data definida.

Esse conteúdo também foi verificado por Estadão Verifica.

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