Publicado originalmente em *Desinformante por Ana D’angelo. Para acessar, clique aqui.
Existe uma associação entre tempo de tela para crianças de 1 ano e consequências no seu desenvolvimento entre 2 e 4 anos? Segundo estudo publicado esta semana pelo Jornal da Associação Norte-Americana de Pediatria sim. O estudo foi realizado por pesquisadores japoneses com 7.097 crianças e seus responsáveis e aponta atrasos no desenvolvimento em comunicação e resolução de problemas entre os 2 e 4 anos.
O tempo de tela das crianças com 1 ano de idade foi avaliado por meio de um questionário no qual os participantes responderam a seguinte pergunta: “Em um dia típico, quantas horas você permite que seus filhos assistam TV, DVDs, videogames, jogos de internet (incluindo celulares e tablets)?” . As descobertas deste estudo corroboram pesquisas anteriores que mostram uma associação entre o tempo de tela entre crianças pequenas e consequências no desenvolvimento motor fino, por exemplo, nos anos subsequentes.
Uma outra análise do resultado da pesquisa relatou uma associação entre o tempo de tela e o desenvolvimento da linguagem e habilidades pessoais e sociais.
A parte boa é que os pesquisadores observaram que este atraso no desenvolvimento da motricidade final e das habilidades pessoais e sociais foi recuperado após este intervalo, aos 4 anos. Mais estudos são necessários para confirmar esta associação, reforçam os pesquisadores.
Embora o tempo de tela tenha sido associado ao atraso no desenvolvimento, ressalta o estudo, pode ter um aspecto educacional dependendo dos programas assistidos em aparelhos eletrônicos. De fato, uma metanálise mostrou que o maior uso de telas estava associado a diminuição das habilidades de linguagem, enquanto o tempo de tela gasto em programas educacionais foi associado ao aumento de habilidades da linguagem.
A Academia Norte-Americana de Pediatria recomenda que programas de alta qualidade devem ser selecionados no momento de se introduzir mídias digitais para crianças de 18 a 24 meses.
Uma limitação do estudo, informam, é que as informações coletadas não permitem separar o tempo de tela educacional de outros tipos de conteúdo assistidos. “Isso pode ter nos ajudado a examinar a associação entre o tempo de tela e o desenvolvimento infantil, considerando aspectos positivos e negativos”, afirmam.
O perfil da coleta de dados e resultados
Das 7.097 crianças incluídas neste estudo, 3.674 eram meninos (51,8%) e 3.423 eram meninas (48,2%). Em termos de tempo de exposição à tela por dia, 3.440 crianças (48,5%) tiveram menos de 1 hora, 2.095 (29,5%) tiveram de 1 a menos de 2 horas, 1272 (17,9%) tiveram de 2 a menos de 4 horas, e 290 (4,1%) tinham 4 ou mais horas. Aos 2 anos de idade, atrasos no desenvolvimento foram observados na comunicação (361 [5,1%]), habilidade motora geral (400 [5,6%]), habilidade motora fina (329 [4,6%]), resolução de problemas (301 [4,2%]) e habilidades pessoais e sociais (387 [5,5%]) domínios. Aos 4 anos, também foram observados atrasos no desenvolvimento da comunicação (283 [4,0%]), habilidade motora geral (303 [4,3%]), habilidade motora fina (349 [4,9%]), resolução de problemas (269 [3,8%]) e habilidades pessoais e sociais (328 [4,6%]) domínios.
Mães de crianças com altos níveis de tempo de tela foram caracterizados como mais jovens, primeira maternidade, menor renda familiar, menor escolaridade e passagem pela depressão pós-parto.
Leia o estudo na íntegra (em inglês) abaixo:
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