Publicado originalmente em *Desinformante por Liz Nóbrega. Para acessar, clique aqui.
Pesquisadores identificaram que, após Elon Musk adquirir o Twitter – agora X -, quase metade dos usuários do chamado “Twitter Ambiental” nos Estados Unidos abandonaram a plataforma. O estudo analisa a atuação de apoiadores ambientais, usuários que frequentemente discutiam a mitigação das mudanças climáticas e a conservação da biodiversidade, de julho de 2019 a abril de 2023.
A investigação demonstra que, após outubro de 2022 – mês em que Musk assumiu a liderança da plataforma -, apenas 52,5% dos 380 mil usuários mapeados ficaram ativos na rede. “O rápido declínio de usuários ativos desperta alarmes e significa uma perda substancial para a comunidade conservacionista, que inclui ecologistas, cientistas sociais, conservacionistas, formuladores de políticas e outros grupos de interesse”, escrevem os autores.
“Para defensores e pesquisadores que dependem fortemente do Twitter, o êxodo de usuários ambientais no Twitter é uma ameaça existencial ao principal modo usado para disseminar informações, mobilizar públicos diversos e analisar seus dados para acompanhar debates e sentimentos contemporâneos em torno das crises mundiais de perda de biodiversidade e mudanças climáticas”, diz o estudo.
A pesquisa comparou o êxodo dos ambientalistas com o chamado “Twitter Político”, um grupo que se envolvia no debate das eleições presidenciais de 2020 dos Estados Unidos e correspondeu a 458 mil usuários. Nesse segundo grupo, apenas 20,6% abandonaram a rede após a chegada de Musk, menos da metade que o núcleo ambiental. “Nossas descobertas corroboram os relatórios preocupantes sobre o aumento da desinformação sobre mudanças climáticas na plataforma”, destaca o artigo.
Estudos anteriores já indicaram o aumento de desinformação climática na plataforma após o início da gestão Musk. Foi registrado por pesquisadores da Universidade de Londres, ainda no ano passado, o aumento do número de tweets mencionando o termo “fraude climática” (“climate scam”, em inglês). Outras pesquisas indicam o aumento de discursos de ódio no X, que, inclusive, ameaçou processar as organizações que denunciam os abusos cometidos – e não punidos – dentro da rede.
Para a pesquisadora Lori Regattieri, que atua na área de justiça climática, o Twitter vem se tornando um ambiente cada vez mais tóxico. No entanto, destaca a especialista, os dados deste estudo se referem à realidade estadunidense, ressalva, e outros países possuem suas particularidades.
“No caso brasileiro, no finado Twitter, plataforma X, mesmo com todas as transformações no desenho da plataforma, que a tornou ainda mais hostil ao ambiente informacional democrático e saudável, continuamos vendo o quanto a mobilização de atores-chave através da plataforma tem efeitos rápidos”, pontua Regattieri.
Cientistas também abandonam a rede
A resistência à plataforma também é vista em outra pesquisa lançada pela revista Nature. A publicação entrou em contato com mais de 170 mil cientistas que eram usuários da plataforma e 9.200 retornaram à revista. Desses, mais da metade disse que reduziu o tempo gasto na plataforma nos últimos seis meses e pouco menos de 7% revelou que parou de usar a rede completamente. De acordo com os dados divulgados, aproximadamente 46% aderiram a outras plataformas de mídia social, como Mastodon, Bluesky, Threads e TikTok.
Sobre os motivos para o afastamento da plataforma, os cientistas o relacionam ao gerenciamento da plataforma por Musk. Já outros disseram ter notado um aumento na quantidade de contas falsas, trolls e discurso de ódio na plataforma. Um dos pesquisadores consultados pela Nature, Žiga Malek, cientista ambiental da Universidade Livre de Amsterdã, disse que começou a ver muitos relatos políticos “estranhos” de extrema-direita defendendo o negacionismo científico e o racismo em seu feed de notícias no Twitter. “O Twitter nem sempre foi tão legal, digamos, mas está uma bagunça agora”, disse ele à Nature.
A pesquisa também buscou entender para onde os cientistas estão indo. 46% dos respondentes disseram ter aberto contas em outras plataformas no último ano, 46,9% ingressaram no Mastodon, 34,8% no LinkedIn, 27,6% no Instagram e 24,9% no Threads, plataforma lançada recentemente pela Meta para competir diretamente com o Twitter. “Com esta migração veio uma incerteza generalizada. Muitos acadêmicos temem que a mudança no cenário da mídia social esteja desfazendo alguns dos avanços que o Twitter ajudou a facilitar em diversidade, equidade e inclusão para a academia”, diz o texto da pesquisa.