Publicado originalmente em Agência Lupa. Para acessar, clique aqui.
Circula pelas redes sociais um vídeo em que um homem diz que a fosfoetanolamina supostamente curaria qualquer tipo de câncer. Segundo a publicação, a chamada “pílula do câncer” ajudaria o organismo a identificar células tumorais e eliminá-las. É falso.
As publicações ainda alegam que a substância química seria a “original da USP [Universidade de São Paulo]” e que teria sido aprovada pela Food and Drug Administration (FDA), órgão dos Estados Unidos similar à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no Brasil.
Por meio do ?projeto de verificação de notícias?, usuários do Facebook solicitaram que esse material fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação da Lupa?:
“ [A pílula do câncer] age nas células cancerosas como marcadores, é como se as capsulas colocassem sinalizadores nas células doentes, fazendo com que elas fiquem mais visíveis para o sistema imunológico (…) Ele [fosfoetanolamina] está sendo comercializado como suplemento vitamínico, só que a pessoa toma e se tiver tumor: ‘babal’ [elimina o tumor].
FOSFOETANOLAMINA ORIGINAL® USP
Líder de mercado nos Estados Unidos, com certificado FDA e alta qualidade chega ao Brasil”.
– Trechos de falas e legenda de vídeo que, até 11h do dia 21 de agosto de 2023, havia sido visualizado por 18,4 mil usuários no Facebook
Falso
Não há nenhuma evidência sobre a eficácia ou segurança da fosfoetanolamina no combate ao câncer. Em nota enviada à Lupa, a FDA compartilhou as bases de dados dos medicamentos aprovados pelo órgão. A substância química não consta na lista de remédios aprovados para o tratamento do câncer ou outras doenças. Portanto, é falso que o produto anunciado na gravação tenha o “certificado FDA”, como alega o post que circula nas redes sociais. Ao contrário do que sugere a publicação, a USP também não recomenda seu uso.
Em nota à Lupa, a universidade informou que tais afirmações já circularam antes, em 2015. Na época, a USP esclareceu que o fosfoetanolamina não é um remédio, e que, portanto, não tem nenhuma comprovação quanto a sua eficácia ou segurança. “A USP não desenvolveu estudos sobre a ação do produto nos seres vivos, muito menos estudos clínicos controlados em humanos. Não há registro e autorização de uso dessa substância pela Anvisa e, portanto, ela não pode ser classificada como medicamento, tanto que não tem bula”, informou a instituição, em um comunicado.
Em 2015, pacientes com câncer entraram na Justiça para obrigar a USP a fornecer as cápsulas de fosfoetanolamina sintética. No mesmo ano, após ação movida pela universidade, o Tribunal de Justiça de São Paulo proibiu o fornecimento do produto pela falta de comprovação cientifica quanto ao seu efeito ou segurança.
Em 2016, a então presidente Dilma Rousseff (PT) autorizou o uso da substância para o tratamento de pacientes com câncer, a partir da Lei n.º 13.269, de 13 de abril de 2016. Contudo, em outubro de 2020, o Supremo Tribunal Federal considerou a norma inconstitucional. Isso porque compete à Anvisa aprovar ou não medicamentos,com base em provas científicas.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária, por sua vez, esclareceu em julho de 2022 que a fosfoetanolamina não passou por testes que comprovem os benefícios e a segurança da substância. Por isso, não pode ser ofertada como medicamento ou prometer qualquer finalidade terapêutica.
A “pílula do câncer” foi criada por Gilberto Orivaldo Chierice, professor aposentado do Instituto de Química da USP, que faleceu em 2019. Apesar de não ter passado por testes clínicos que comprovem sua eficácia em humanos, a substância foi distribuída gratuitamente por 20 anos pelo professor com a promessa de que curaria o câncer.
Em 2017, um estudo conduzido pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), concluiu que a fosfoetalonamina não é eficiente para combater tumores. A pesquisa foi realizada com pacientes do Icesp que não se curaram a partir de tratamentos convencionais, já realizados. Ao todo, 72 pacientes, com diferentes tumores, foram analisados, e apenas um apresentou alguma melhora.
Nota: Este conteúdo foi produzido pela Lupa com apoio do Instituto Todos pela Saúde (ITpS)