Meta, Google e Youtube lucram com golpe de “detox v@ginal” no Quênia

Publicado originalmente em *Desinformante por Ana D’angelo. Para acessar, clique aqui.

Numerosos grupos e páginas do Facebook, contas de Instagram e canais no Youtube estão vendendo e recomendando conteúdo perigoso sobre tratamentos de desintoxicação vaginal e até para cura da infertilidade direcionados a mulheres no Quênia.  Os próprios algoritmos do Facebook amplificam o conteúdo, além dos anúncios que estão amplamente disponíveis, apesar de violarem as políticas da plataforma contra produtos e curas milagrosas. Google e YouTube também estão lucrando com anúncios que vendem “desintoxicação vaginal”, apesar dos riscos evidentes para as mulheres, de acordo com médicos e organizações de saúde. Esta pesquisa foi conduzida pelo coletivo ativista queniano Fumbua, com apoio da organização global #ShePersisted, voltada para o combate à desinformação que atinge as mulheres. Leia aqui na íntegra.

Para investigar a onda de “detox vaginal” no Quênia, os pesquisadores criaram perfis nas plataformas usando uma rede baseada naquele país. A partir daí detectaram redes de comercialização destes produtos para vários países africanos, a partir do Quênia, sem qualquer restrição, verificação de fatos ou etiquetas de desinformação, nem links para órgãos de saúde oficiais. Em diversos grupos há imagens e vídeos prometendo curas milagrosas contra diversas doenças, até mesmo para infertilidade e prevenção do câncer.

Jornalistas quenianos documentaram que usuários do Instagram no país têm acesso a milhares de postagens contendo hashtags sobre este tipo de produto. O mais popular são as yoni pearls ou pérolas yoni, cuja indicação é para que sejam introduzidas na vagina. Durante a investigação, relatam os pesquisadores, a hashtag #yonipearls, que aparecem em mais de 199 mil posts, foi bloqueada pela plataforma por possíveis violações da política de comunidade.  No entanto, as postagens ainda estavam visíveis.

O experimento do Fumbua encontrou 690 postagens no Instagram promovendo o uso desses produtos duvidosos para mulheres quenianas, entre 2020 e 2021. Uma das contas sugeria de uma a oito limpezas vaginais, a depender do problema. “Problemas mais sérios como cistos, miomas, infertilidade, trompas bloqueadas, síndrome do ovário policístico requerem oito limpezas”, afirmavam os falsos médicos. Vários outros relatos fizeram alegações falsas sobre os benefícios das pérolas yoni.

A Meta, dona do Facebook e Instagram, respondeu aos pesquisadores do Fumbua dizendo que remove o conteúdo “quando os tratamentos são amplamente considerados como prováveis ??de contribuir diretamente para o risco de ferimentos graves ou morte”, diz a nota assinada por um porta-voz.

A pesquisa também identificou vários vídeos monetizados no YouTube no Quênia com desinformação sobre ´pérolas yoni e vaporização. “Os exemplos identificados em nossa investigação provavelmente representam apenas uma amostra do conteúdo monetizado do YouTube que contém desinformação sobre golpes com produtos de saúde visando mulheres no Quênia”, dizem os pesquisadores. Em um vídeo, o criador de conteúdo detalha como deve ser feita uma vaporização com as pérolas que supostamente traz a fertilidade. Em outro vídeo do mesmo tipo, o Youtube exibe, antes, um anúncio de 50 segundos sobre um banco local.

A plataforma de vídeos admitiu ao jornal The Guardian que precisou remover páginas e desmonetizar vídeos depois das denúncias, que também foram publicadas pelo jornal britânico. “O YT nos enviou uma atualização de que removeu algumas das páginas. A plataforma informou que desmonetizou vários vídeos sinalizados no relatório por violar suas políticas de monetização contra a promoção de alegações ou práticas médicas ou prejudiciais à saúde e removeu os anúncios que violam suas políticas de anúncios.”, informaram os jornalistas do Guardian.

A investigação descobriu ainda que o Google tem um papel na promoção deste conteúdo enganoso e arriscado através da sua busca. Quando um usuário do Quênia pesquisa no Google sobre “desintoxicação vaginal” e “desintoxicação do útero”, consegue chegar a produtos de vapor yoni e pérolas yoni no topo da página. No caso da busca “detox vaginal”, um artigo apareceu diretamente debaixo dos anúncios informando que o pérolas podem ser perigosas.

Da mesma forma, uma pesquisa no Google por “comprar pérolas yoni” retornou um resultado principal de um grupo de anúncios de varejistas vendendo os produtos livremente. O Conselho de Farmácia e Venenos (PPB) do Quênia emitiu uma nota, advertindo contra o uso de “Yoni Pearls” ou produtos semelhantes não registrados no Quênia. “Riscos potenciais à saúde estão envolvidos, pois sua qualidade e segurança não podem ser garantidas. Abstenha-se de distribuir, vender ou usar esses produtos. Fique seguro e denuncie produtos de saúde suspeitos ao PPB”, diz o texto.  

Quem é responsável?

Além de uma investigação criminal sobre a rede de atores maliciosos envolvidos no comércio dos produtos, os pesquisadores recomendam investimentos das plataformas digitais em segurança e integridade para a saúde pública e direitos humanos. “Esta investigação no Quênia destaca não apenas as desigualdades globais de tecnologia e racismo estrutural, mas a interseção do preconceito de gênero. As evidências mostram que Meta, Google e Youtube estão lucrando com os danos online e promovendo algoritmicamente produtos fraudulentos perigosos para as mulheres”, afirma Kristina Wilfore, co-fundadora da #ShePersisted.

Segundo a reportagem do The Guardian, a  Meta está enfrentando no Quênia três ações judiciais sobre inadequações em seus sistemas de moderação de conteúdo. Os casos levaram a um maior escrutínio pelos órgãos de monitoramento de mídia social do país. Um relatório do Conselho do Quênia para mídia social responsável constatou que quase metade dos entrevistados disse ter visto desinformação em sites de mídia social, enquanto metade acreditava que poderia identificá-la com segurança. Cerca de 9,25 milhões de quenianos usam o Facebook, 9,44 milhões usam o YouTube e 2,2 milhões de pessoas usam o Instagram, de acordo com um relatório de 2023 sobre o uso da Internet.  

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