Publicado originalmente em Portal Luneta por Agatha Khrysthie e Fabrício Freitas. Para acessar, clique aqui.
O prazer em se manter conectado é só a ponta do iceberg de uma série de problemas físicos e mentais
Na Era Digital, em que se tornou comum a população brasileira conviver com smartphones, tablets e computadores a todo instante para realizar atividades de trabalho e lazer, surgiram também novas dependências e transtornos em decorrência de seu uso exagerado. Isso porque a sociedade, sobretudo os grupos de jovens e crianças, mantêm-se presos às telas dos dispositivos móveis, uma vez que elas aceleram a produção de dopamina (um neurotransmissor essencial para a regulação do prazer, motivação e recompensa no cérebro) e fazem com que sintam prazer quando conectados aos aparelhos eletrônicos.
O vício nas telas é uma questão tão importante a ser discutida que virou até tema de longa-metragem. “O Dilema das Redes” (2020), um documentário lançado pela plataforma de streaming Netflix, traz à tona questões preocupantes sobre o impacto das big techs no cotidiano social. O documentário conta com a participação de ex-funcionários de renomadas empresas, como Google, Facebook e Twitter, que expõem os perigos causados pelo uso desregrado dessas plataformas.
Um dos aspectos destacados no filme é o emprego de técnicas behavioristas (técnicas behavioristas são psicológicas que se concentram no estudo e modificação do comportamento observável, utilizando reforço positivo, acomodação operante e outras estratégias para promover mudanças comportamentais desejadas) por parte dessas empresas, cujo objetivo é criar e manter uma dependência nos usuários. O termo “usuário” em si é significativo nesse contexto, pois remete à ideia de uma relação de dependência, assim como ocorre nas indústrias de substâncias ilegais. Essas estratégias manipuladoras são utilizadas para aumentar o engajamento dos usuários, mantendo-os conectados por longos períodos de tempo e explorando suas preferências e comportamentos para fins lucrativos.
Efeitos maléficos
Estudos apontam que a dependência em telas de aparelhos eletrônicos pode resultar em impactos negativos na saúde física e mental. Isso porque esses dispositivos de prazer podem levar o indivíduo a desenvolver quadros graves de ansiedade, depressão, isolamento social, insônia e dificuldades de concentração, além de dores nos olhos, mãos e cabeça.
“Sinto incômodo nos olhos, pois eles lacrimejam não só quando estou no celular, como também quando estou em frente a qualquer tela; costumo também ter dor de cabeça”, afirma a estudante Ella Oster.
Para o psicólogo Marc Masip, o hábito compulsivo nas telas desencadeia efeitos nocivos até na vida acadêmica e nos relacionamentos interpessoais.
“Vemos como os jovens se comunicam por meio das telas de forma rápida, fácil e confortável, mas cara a cara eles são tímidos e não tem ferramentas suficientes para sentir empatia, olhar ou abraçar”, explica Masip.
Dependência nas telas
Segundo a pesquisa do Panorama Mobile Time/Opinion Box realizada em outubro de 2020, 61% das crianças de 0 a 3 anos têm acesso a smartphone, seja próprio ou dos pais. A proporção aumenta conforme a idade e alcança 95% na faixa etária de 10 a 12 anos.
Enquanto isso, de acordo com a análise da Vigitel Brasil, publicado pelo Ministério da Saúde em 2021, 66% da população adulta passa, ao menos, três horas de tempo livre por dia em frente à televisão, computador, celular ou tablets. Dessa categoria, os jovens adultos, com idade entre 18 a 24 anos, são os que mais dispõem tempo em frente à tela, com a proporção chegando a 86%.
Padrão de beleza propagado pelas telas
Outro efeito adverso que as telas proporcionam é a difusão do padrão de beleza inalcançável. Com o suporte das redes sociais, o molde de olhos claros, nariz fino, pele branca, rosto simétrico, cabelos lisos, corpo magro e definido, faz com que os usuários, sobretudo os mais jovens, desenvolvam problemas de autoestima, baixa autoconfiança, distúrbios alimentares e até transtornos de imagem corporal.
“É um padrão de beleza terrível, porque ninguém tem essa perfeição. Por causa das redes sociais comecei a ter problemas com o formato do meu rosto e com os meus olhos, e isso prejudicou bastante a minha autoestima”, relata Oster.
“Comparo meu corpo, meu cabelo, minha pele, até mesmo a rotina. Me sinto culpada, às vezes, por não ser como é na internet”, disse a estudante Joyce Nirvana.
Caminhos para reduzir a dependência
É importante ressaltar que a conscientização e o equilíbrio são essenciais quando se trata do uso de telas de celular. Embora a tecnologia tenha inúmeras vantagens e benefícios, é importante usá-la de forma saudável e moderada, buscando um equilíbrio entre a vida dentro e fora das telas.