Publicado originalmente em Agência Bori. Para acessar, clique aqui.
Pesquisa realizada em dois reservatórios do Rio Grande do Norte revela que a piscicultura em tanques-rede, realizada num modelo familiar, tem impactos reduzidos sobre os ecossistemas aquáticos, o que não compromete a atividade pesqueira. Sendo assim, o uso simultâneo de piscicultura e pesca podem, sinergicamente, favorecer a cadeia alimentar local. A observação é de pesquisadores da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) em estudo publicado na revista “Aquaculture” na segunda (12).
O trabalho mostra que o uso de tanques-rede em reservatórios do semiárido pode beneficiar a cadeia alimentar local que sustenta a pesca. Isto porque, se os reservatórios têm baixa produção natural de algas, os tanques-rede podem servir como fornecedores de nutrientes para estas algas e consequentemente para a toda teia trófica, potencialmente aumentando a disponibilidade de alimento para espécies predadoras como tucunaré e traíra, as preferidas pelos pescadores.
A pesquisa foi desenvolvida nos reservatórios de Santa Cruz e Umari, ambos na bacia hidrográfica do Rio Apodi-Mossoró. Os autores desenvolveram um modelo matemático para cada reservatório, nos quais quantificaram as cadeias alimentares aquáticas, isto é, as relações alimentares entre as espécies de peixes e outros componentes como camarões, insetos, algas, plantas aquáticas. Eles ainda relacionaram esta cadeia alimentar com o cultivo de tilápias nos tanques-rede de 33?toneladas em Santa Cruz e 268?toneladas em Umari.
Os autores ressaltam que, embora as simulações demonstrem que o cultivo de peixes em tanques-rede pode proporcionar uma maior produção pesqueira, há um limiar de entrada positiva de nutrientes e matéria orgânica provenientes da atividade aquícola. “Acima do limite, a atividade pode atuar negativamente, reduzindo a qualidade da água dos reservatórios”, explica o autor principal do estudo, Sávio de Moura, pesquisador da UFMA. O trabalho é fruto de seu doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da UFERSA.
A relação entre piscicultura e pesca
Muito se discute sobre o conflito entre a criação de peixes em tanques-rede em reservatórios e outras atividades como pesca e abastecimento. A concentração de muitos peixes em pouco espaço produz uma grande quantidade de fezes, além da ração não aproveitada por eles. Isto pode aumentar a decomposição, reduzir o oxigênio e causar a eutrofização, um crescimento elevado de algas e plantas aquáticas em geral, que deteriora a qualidade da água, podendo prejudicar as outras atividades do reservatório.
Entretanto, afirmam os autores, seja avaliando o impacto da criação observada durante o período da pesquisa, ou simulando o aumento destes tanques com o uso do modelo matemático, nestes reservatórios que possuem baixa produção natural de algas, os tanques não afetam negativamente as outras espécies e nem prejudicam a pescaria de pequena escala. Além do mais, acrescentam, a simulação mostra que o aumento dos tanques pode beneficiar as populações de peixes já existentes nos reservatórios, pois os resíduos acabam servindo como nutrientes à cadeia alimentar local. “De qualquer maneira, o estudo foi feito com poucos tanques e qualquer aumento no número de tanques deve ser monitorado, para evitar prejuízos aos outros usos do reservatório, que são abastecimento, irrigação, lazer e pesca”, ressalva Ronaldo Angelini, outro autor do trabalho.