Publicado originalmente em Agência Bori. Para acessar, clique aqui.
Até fevereiro de 2022 havia desigualdade regional entre os números de ensaios clínicos realizados para a produção de vacinas destinadas ao combate do vírus Sars-Cov-2. Cerca de 80% dos testes estavam sendo desenvolvidos em países da América do Norte, Europa Ocidental, Sul e Sudeste da Ásia, enquanto países da América Latina e África possuíam poucos ensaios. Os dados, analisados a partir de relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), compõem estudo publicado na revista científica “Cadernos de Saúde Pública” na sexta-feira (19) por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
A pesquisa, conduzida pelo mestrando em Demografia João Victor Antunes Lopes e colegas, teve como objetivo analisar a distribuição global das instituições que estavam fazendo ensaios clínicos de vacinas contra a Covid-19. A análise foi dividida em três etapas. Primeiro, os pesquisadores analisaram, a partir de dados da OMS, quantos testes estavam sendo realizados do início da pandemia até fevereiro de 2022. A seguir, foram excluídos todos que não continham coordenadas geográficas, sendo identificados 187 ensaios clínicos no total. E, por fim, um mapa georreferenciado foi criado para ilustrar as informações encontradas.
Os países com maior concentração de ensaios foram os Estados Unidos (51), China (38), Inglaterra (11), Japão (8), e Canadá (7). Para Lopes, os dados servem como um alerta à população de países com baixo teor de pesquisa e testagem e devem ser interpretados pelo perigo que apresentam para possíveis situações futuras. “Essa distribuição reflete uma capacidade global e local de responder a alguns problemas em relação a questões de saúde pública para além da Covid-19?, comenta Lopes.
O trabalho também discorre sobre como regiões que concentram mais projetos e instituições para o desenvolvimento de vacinas tendem a ter uma capacidade tecnológica superior para responder a possíveis emergências. O Brasil demonstrava futuro promissor com a Fiocruz e o Instituto Butantan. “Consideramos também o caso do Brasil, que não encerrou o ciclo completo de desenvolvimento da vacina contra a Covid-19 no período indicado; mas, com políticas favoráveis, tem potencial para se envolver ainda mais”, ressalta o pesquisador.
Lopes acredita que outro elemento de destaque do estudo foi mostrar quais são as tecnologias mais exploradas por cada região. A América do Norte e Europa Ocidental, por exemplo, investiram em técnicas mais recentes – RNA mensageiro, enquanto o Sul e o Sudeste Asiático utilizaram técnicas mais antigas – vírus inativo. Futuramente, os resultados poderão auxiliar em pesquisas que explorem outros estágios da produção de vacinas da Covid-19 ou que verifiquem outros períodos de tempo. “Uma possibilidade interessante seria poder atualizar e ver como esses resultados vão estar até o final de 2023, por exemplo, ou em anos subsequentes”, conclui.