Tratamento precoce para a COVID-19 recomendado pela médica Nise Yamaguchi funciona?

Publicado originalmente em Nujoc Checagem por Edison Mineiro. Para acessar, clique aqui.

O Nujoc recebeu para checagem um vídeo veiculado pelo grupo “Médicos pela Vida” com a médica Nise Yamaguchi. No vídeo, a oncologista defensora do tratamento precoce faz um tutorial com orientações de acesso a plataforma do grupo em questão. O site permite encontrar médicos por proximidade de região que realizam a profilaxia contra a COVID-19, ou seja, utilizando os medicamentos hidroxicloroquina e ivermectina. O material chegou a nossa equipe por meio do aplicativo Eu Fiscalizo (Disponível para Android e IOS).

No vídeo ainda há descrição de como seria o atendimento e em que fase procurar ajuda: “É uma plataforma composta por médicos que atendem o paciente com sintomas de Covid, alguns por teleatendimento e outros com atendimento presencial, com o grande diferencial, que esses médicos tratam a fase viral com o *tratamento precoce*, ou seja, ao surgirem os primeiros sintomas eles prescrevem os medicamentos que surtem efeito nessa fase da doença, o que impede na grande maioria dos casos que o quadro evolua para grave, salvando assim, milhares de vidas”.

O tratamento precoce não salva vidas, além de não ser recomendado pelas entidades médicas e sanitárias. Inclusive, o Nujoc Checagem já apontou em outros momentos, conforme pode ver aqui.

Em boletim, a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), braço da Organização Mundial de Saúde (OMS), não orienta o uso de hidroxicloroquina, ivermectina, e tampouco o tratamento precoce contra a COVID-19. Confira os fragmentos sobre a Hidroxicloroquina e Ivermectina:

No dia 1 de março de 2021, um painel de especialistas internacionais do Grupo de Desenvolvimento de Diretrizes da OMS afirmou, na publicação The BMJ, que a hidroxicloroquina não deve ser usada para prevenir a infecção em pessoas que não têm COVID-19. A forte recomendação do grupo foi baseada em evidências de alta certeza de seis ensaios clínicos randomizados envolvendo mais de 6.000 participantes com e sem exposição conhecida a uma pessoa infectada por COVID-19. A evidência de alta certeza mostrou que a hidroxicloroquina não teve efeito significativo na morte e admissão ao hospital, enquanto a evidência de certeza moderada mostrou que a hidroxicloroquina não teve efeito significativo na infecção por COVID-19 confirmada em laboratório e provavelmente aumentava o risco de efeitos adversos. Como tal, o painel considerou que este medicamento não é mais uma prioridade de pesquisa e que os recursos devem ser usados para avaliar outros medicamentos mais promissores para prevenir COVID-19.

[…]

A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) não recomendam o uso de ivermectina para quaisquer outros propósitos diferentes daqueles para os quais seu uso está devidamente autorizado, como para tratamento de oncocercose e sarna”.

Vale ressaltar que aqui no Brasil a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) também não recomenda o uso dos referidos medicamentos.

De acordo com a CNN Brasil, na Europa a Agência de Medicamentos defende que não há evidências científicas que comprovem a eficácia das substâncias contra a Covid-19 e afirma que estudos associaram doses altas dos medicamentos a um risco maior de problemas cardíacos e distúrbios neuropsiquiátricos, incluindo agitação, insônia, confusão, psicose e tendências suicidas.

Na página da Faculdade de Medicina da UFMG também há uma série de informações ressaltando que não há tratamento medicamentoso que comprovadamente previna ou cure a covid-19. Confira aqui.

Médicos pela Vida – Com informações do Estadão, a Associação Médicos pela Vida consiste no principal grupo de profissionais a apoiar o uso de remédios sem eficácia contra a covid, como a hidroxicloroquina, a azitromicina e a própria ivermectina. Foi iniciativa da entidade a publicação de informes publicitários favoráveis ao tratamento precoce em oito jornais de grande circulação no País em fevereiro e a colocação de outdoors propagandeando a terapia ineficaz em várias cidades brasileiras. Representantes da associação também já se encontraram, em setembro do ano passado, com o presidente Jair Bolsonaro, outro apoiador das terapias inócuas.

Durante o mês de março, a entidade promoveu em seu site “super lives multidisciplinares” exclusivas para médicos nas quais são ensinados os protocolos de tratamento. Para o evento, a associação disponibilizou aos profissionais com CRM uma plataforma online na qual, além de assistir às lives, os médicos podem assinar os manifestos do grupo, se registrar em um cadastro público de doutores que prescrevem os remédios e acessar materiais sobre o tema. A plataforma, chamada de iMed, foi desenvolvida e é mantida pelo Grupo José Alves, proprietário da farmacêutica Vitamedic, uma das fabricantes da ivermectina no Brasil.

O Estadão também aponta números concedidos pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF) apresentando que o total de unidades vendidas de ivermectina aumentou 557% em 2020 em comparação com 2019, sendo dezembro o mês recordista de vendas da droga.

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