Seis entre dez doenças infecciosas têm origem em animais, mas ação humana facilita sua proliferação

Publicado originalmente em Agência Bori. Para acessar, clique aqui.

Highlights

  • Salto de vírus e bactérias entre espécies é comum, mas evolução desses casos para epidemias é raro
  • Fenômeno tem relação com a forma como interagimos com as espécies animais
  • Preservação da biodiversidade pode ajudar no controle desses eventos

Em revisão sistemática, pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) revelam que 75% das doenças infecciosas, como a Covid-19, são derivadas de microrganismos que originalmente circulavam em espécies de animais selvagens e “saltaram” para os seres humanos. A proliferação dessas doenças entre os seres humanos, no entanto, é facilitada pelas ações humanas. O estudo, que traz reflexões sobre como prevenir o salto de patógenos entre espécies, está publicado na revista “Genetics and Molecular Biology”.

Os autores revisaram estudos científicos em inglês sem restrição de ano de publicação a partir das principais bases de dados das áreas de medicina e biologia do PubMed/MEDLINE,  SciELO e Google Scholar. Os termos buscados foram  “spillover”, “zoonotic spillover”, “pathogen spillover”, “host jump”, “cross-species transmission” e “zoonotic transfer”.

Embora o salto de patógenos de uma espécie de animal selvagem para outra e, posteriormente, para humanos seja comum, segundo mostram os dados, é raro que esses eventos levem a uma situação epidêmica, explica José Artur Bogo Chies, co-autor do estudo. No caso da pandemia de Covid-19, o vírus Sars-Cov-2 se adaptou ao ser humano, com grande poder de transmissibilidade, o que reforça o papel da ação humana na cadeia de disseminação do vírus. “Podemos citar os casos de Influenza, cujo salto para a espécie humano foi favorecido pela criação de aves e suínos em um mesmo ambiente, ao longo da evolução humana”, exemplifica.

No caso da Covid-19, a principal hipótese é que o Sars-CoV-2 surgiu do morcego, conforme demonstram as análises de sequências genéticas do vírus, mas que alguma espécie, como os pangolins, agiu como intermediária para a infecção. “A carne dos pangolins é comumente consumida na China e pode ter havido contaminação ao manusear ou se alimentar deste mamífero. Outra possibilidade é que esta variante do coronavírus estivesse em estudo e, acidentalmente, tenha escapado do controle laboratorial. Porém, é importante saber diferenciar o conceito de um vírus escapar do laboratório da teoria da conspiração de que o vírus tenha sido fabricado em laboratório”, alerta.

Bogo Chies reforça que o salto de espécies zoonótico de doenças infecciosas é altamente conectado com a forma como os humanos interagem com as espécies animais e o meio ambiente. Por isso, a preservação da biodiversidade se faz necessária para controlar os riscos de surgimento de potenciais patógenos para a espécie humana. “Com esse controle, potenciais patógenos seriam encontrados em pequenas quantidades e em seus hospedeiros usuais, com menor risco de transmissão”, comenta.

Outro problema, aponta o pesquisador, é o uso excessivo de antibióticos ou drogas antivirais, inclusive no campo veterinário, o que favorece uma seleção de micro-organismos que se tornam resistentes. Protocolos de segurança na cadeia produtiva de alimentos de origem animal podem ajudar a diminuir os riscos ao manter os animais em ambientes livres de infecção e disseminação de vírus, com medidas de vigilância, controle, teste e eliminação dessas doenças não humanas.

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