Operação secreta do governo garante a produção de 6 milhões de doses de vacina brasileira contra a Covid-19?

Publicado originalmente em Nujoc Checagem por Márcio Granez. Para acessar, clique aqui.

Boato circula nas redes sociais e afirma ainda que a produção será fiscalizada por cientistas de Israel e controlada pelo vice-presidente, Hamilton Mourão

Está circulando pelas redes sociais mensagem enaltecendo a atuação do presidente, Jair Bolsonaro, e do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, pela suposta criação de vacina brasileira contra o novo coronavírus. Segundo a mensagem, que chegou para verificação pelo aplicativo Eu Fiscalizo, a vacina seria resultado de uma operação secreta, envolvendo a Fundação Oswaldo Cruz e o governo de Israel, que garantiria a produção de seis milhões de doses por semana. Toda essa operação teria sido mantida em sigilo para evitar a interferência dos “esquerdopatas”. “Única vacina brasileira realmente aprovada pela ANVISA… Serão entregues 6 milhões de doses por semana. Parabéns Bolsonaro e Pazuelo”, finaliza a primeira parte da mensagem.

A mensagem é falsa. O Brasil não fez nenhuma operação secreta para produzir vacinas. Muito pelo contrário, o governo Bolsonaro sempre minimizou a eficácia das vacinas contra a Covid-19, e até hoje combate as medidas básicas de prevenção, como o uso de máscaras e o lockdown. Durante meses, o presidente ignorou o avanço do contágio e desprezou a iniciativa do governo de São Paulo em produzir a Coronavac, que veio a ser a primeira vacina a ser aprovada, em caráter emergencial, em território nacional e a que mais tem sido utilizada pela população brasileira.

A mensagem ainda dá detalhes sobre a suposta participação de cientistas israelenses na produção da vacina: “Golpe de Mestre ! 500 mil mais 6 milhões por semana com um maquinaria e cinco cientistas todos vindos de Israel, 40 estagiários que ficaram 90 dias em Israel e mais 300 funcionários recrutados nas universidades”.

A informação não tem fundamento. O site Boatos.org já checou a mensagem na íntegra, e explica que na verdade a fábrica da Fiocruz começou a produzir no Brasil a vacina da AstraZeneka, a partir da chegada dos insumos para a produção. Confira a checagem completa do site aqui. Não se trata, portanto, de vacina brasileira, mas de vacina produzida no Brasil. Israel não tem nada a ver com isso: “A vacina que será produzida na Fiocruz é a da AstraZeneca/Oxford. Ou seja: será uma vacina sueco-britânica. A única “novidade” (ótima, por sinal) é que o insumo da vacina (IFA) será produzido no Brasil e não importado”, esclarece a checagem do site Boatos.org.

O texto da mensagem: tudo falso. Imagem: Reprodução

Guerra ideológica – A mensagem tem claro viés ideológico, tanto pela forma como pelo conteúdo. Na forma, ela abusa dos adjetivos e do exagero retórico, incluindo os elogios ao governo, os erros de digitação e as letras maiúsculas para destacar o efeito das palavras – “caixa alta”, no jargão da imprensa. No conteúdo, a mensagem distorce fatos conhecidos, como o repúdio do governo atual em combater a pandemia, e a situação calamitosa do país no pior momento da crise sanitária.

Jair Bolsonaro em pronunciamento: mudança de tom. Foto: Anderson Riedel/PR

Atualmente, há forte pressão no Congresso e na sociedade civil pela responsabilização do atual mandatário pela tragédia da pandemia no Brasil, que já ultrapassou a marca dos 300 mil mortos. Alguns setores têm se mobilizado pela instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito – CPI para investigar a atuação do governo no enfrentamento da pandemia. Com a pressão, o governo tem mobilizado sua base para tentar reescrever os fatos, e o próprio presidente mudou o discurso no pronunciamento à nação em 23 de março, todo ele marcado por incongruências entre o discurso e a prática, conforme apontou a Folha de S.Paulo e a agência Aos Fatos. A mensagem falsa sobre a “operação secreta da vacina brasileira” é mais uma peça de desinformação nesse sentido.

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