Minimizar risco de morte por COVID-19 é um erro

Publicado originalmente em Covid-19 DivulgAÇÃO Científica por Alessandra Ribeiro. Para acessar, clique aqui.

O Brasil se aproxima da marca de 600 mil mortes em decorrência da COVID-19, como mostram os números oficiais. No entanto, publicações em circulação na internet e nas redes sociais sugerem que a doença “não é tão letal assim” e colocam em dúvida a seriedade da pandemia.

O médico Julio Croda, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no Mato Grosso do Sul, afirma que é um erro minimizar o risco de morte em decorrência da COVID-19. “A COVID superou a doença infecciosa mais letal no mundo, que era a tuberculose”, compara. 

Segundo o relatório mais recente sobre tuberculose da Organização Mundial da Saúde, 1,4 milhões de pessoas morreram após contrair a doença, provocada pelo bacilo de Koch, em 2019. Por outro lado, em dezembro de 2020, a infecção transmitida pelo novo coronavírus já havia provocado 1,5 milhões de mortes. Em setembro de 2021, o número de óbitos notificados por COVID-19 ultrapassa 4,7 milhões.

“A COVID-19 matou mais que a Aids no Brasil, ao longo de todos os anos desde a descoberta do HIV”, lembra Croda. Segundo dados do Ministério da Saúde, desde o início da epidemia de Aids no país, em 1980, até o final de 2019, foram notificados 349.784 óbitos associados ao HIV/Aids como causa básica. Em comparação, o país ultrapassou 350 mil mortes por COVID-19 em abril de 2021, pouco mais de um ano após o início da atual pandemia.

Risco aumentado

De acordo com o Painel Coronavírus do Ministério da Saúde, a taxa de letalidade da COVID-19 no Brasil é de 2,8%, o equivalente a 282,9 mortes por 100 mil habitantes. “É uma doença muito grave. A taxa de letalidade no mundo é de 0,5% a 1%. A letalidade nos diferentes estados brasileiros varia de 2% a 10%. Temos subnotificação, porque nem todos são testados, mas essa letalidade é extremamente elevada. Quando olhamos as faixas etárias dos idosos, isso é ainda mais impactante”, analisa o professor da UFMS.

Croda é autor de um estudo que avaliou os fatores de risco de morte entre mais de 120 mil pacientes hospitalizados com diagnóstico confirmado de COVID-19 no estado de São Paulo, no período de fevereiro a outubro de 2020 ‒ na primeira onda da pandemia no país. Do total de pacientes levados à internação, 27,4% morreram. Na faixa etária acima dos 60 anos, o percentual de mortes entre os internados atingiu o índice de 41,3%.

O pesquisador cita outro indicador que demonstra a letalidade preocupante da COVID-19: o excesso de mortes, conceito que representa o número de óbitos acima do esperado, com base no padrão de mortalidade observado na população anteriormente. Estimativas do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass) mostram que 74 mil mortes acima do esperado foram registradas nos cartórios brasileiros entre março e junho de 2020, nos primeiros meses da pandemia.

Isso não significa, necessariamente, que a COVID-19 tenha sido a causa direta dos óbitos, mas pode ter provocado reflexos indiretos, como mortes decorrentes da sobrecarga nos serviços de saúde, da interrupção no tratamento de doenças crônicas ou do receio de pacientes em buscar atendimento médico, pelo medo de se infectar com o novo coronavírus.

“Precisamos entender que quando temos falta de assistência e colapsos do sistema de saúde, essa letalidade aumenta”, resume Croda.

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