Mercado de trabalho reproduz estereótipos e padrões de comportamento

Publicado originalmente em Grupo de Pesquisa em Mídias Digitais e Internet – MíDI por Quezia Dias. Para acessar, clique aqui.

A década de 1920, conhecida como “anos loucos”, mostrou um início de radicalização feminina em um contexto extremamente patriarcal. Os cortes de cabelos, que até então eram vistos como o “véu feminino”, começaram a ser usados como uma das formas de contrariar o sistema de socialização de gênero nas sociedades ocidentais. Essa libertação desejada foi intensificada em 1930, quando as mudanças de estilos de roupas foram reconstruídas. Arquivos de fotos mostram a perplexidade no olhar das pessoas daquela época, quando as primeiras mulheres começaram a usar bermudas e tiveram problemas com a polícia por usar biquínis.

O processo de modernização dentro do mercado de trabalho tem ocorrido desde que a mão de obra se tornou assalariada. Essa evolução não foi obtida somente nas transformações do mercantilismo até o surgimento das primeiras indústrias têxteis, refletiu também no comportamento social das pessoas neste mercado – que, mesmo na contemporaneidade, continua exigindo um padrão de personalidade para com o público oferecedor de serviços.

Neste sentido, não é possível falar do fator trabalhista sem falar da dificuldade que as mulheres tiveram para serem aceitas, necessitando até de modificarem suas formas de se vestir – uma aceitação que até hoje não foi conquistada completamente. A emancipação continua sendo uma jornada, não utópica, mas que exigiu de gerações passadas, e continuará exigindo das futuras, uma luta contra uma gama de retrocessos.

Em um contexto mais generalizado, sabe-se o quanto as indústrias da moda e da música, como representantes do comportamento e da cultura, influenciam diversificados estilos encontrados em todo o mundo. Não é difícil olhar para a rua e ver pessoas, antes marginalizadas, com tatuagens, piercings, novas cores e estilos de cortes de cabelos e roupas chamativas. Esses novos padrões de comportamento foram mais aceitos depois do surgimento de artistas como Michael Jackson, Prince, bandas de rock e diversos outros que começaram a influenciar a sociedade. Mas embora essa modernização seja mais aceita atualmente do que em décadas passadas, ainda é julgada como um fator de definição de caráter e profissionalismo em grande parte do mercado de trabalho.

As empresas exigirem padronização da equipe de funcionários, de acordo com a norma empresarial adotada, é um dos pilares para o funcionamento de serviços prestados aos clientes. Porém, as várias modificações feitas no corpo ou no cabelo acabam sendo mal aceitas pelos chefes. Ainda assim, não é incomum ver pessoas de cabelos coloridos, com piercings e tatuagens trabalhando com o público. Mas em qual área do mercado os funcionários com essas características são aceitos?

Esse questionamento se torna uma reflexão mais dura a partir do momento que não conseguimos imaginar comumente um médico ou um professor que possa ter adotado, por exemplo, um estilo semelhante aos de artistas da música pop. A verdade é que por mais que o mercado esteja sendo reformado por essa geração de jovens com novos estilos, ainda há uma dificuldade de imaginá-los em profissões que a sociedade exige uma postura “mais séria”. A pergunta é: Por que um médico com piercings e tatuagens seria menos profissional?

Não se deve negar as grandes transformações que obtivemos na sociedade e, por extensão, no mercado de trabalho para a desconstrução de preconceitos estilísticos. O processo continua lento e até mesmo desencorajador para muitos que têm vontade de mudar o visual, porém, muitos estereótipos adotados por determinada profissão ainda não aceitam pessoas fora do padrão.

Quezia Dias é estudante de Jornalismo na Universidade da Amazônia (UNAMA).

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