É falso o discurso do ganhador do Prêmio Nobel de Medicina, que afirma que vacinação cria novas variantes da Covid-19

Publicado originalmente em Nujoc Checagem por Thalita Albano. Para acessar, clique aqui.

Mais uma desinformação no tocante a pandemia do novo coronavírus e das vacinas contra a Covid-19 que tem sido fonte de esperança para inúmeras pessoas nesse momento tão difícil pelo qual o mundo passa. Trata-se de um vídeo que circula nas redes sociais e que o Nujoc Checagem, por meio de parceria com o aplicativo Eu Fiscalizo da Fiocruz (disponível para Android e iOS) recebeu, onde o médico virologista Luc Montagnier, descobridor do HIV e ganhador do Prêmio Nobel de Medicina, fala sobre as vacinas contra a Covid-19.

Durante entrevista, quando questionado como Luc via os programas de vacinação em massa, vacinação comparada com tratamentos que funcionam e não são caros, ele respondeu que tratava-se de um erro enorme e afirmou que era justamente a vacinação que estava produzindo as variantes. “É um erro enorme, não é? Um erro científico bem como um erro médico. É um erro inaceitável. Os livros de história mostrarão isso, porque é a vacinação que está criando as variantes. (…) As novas variantes são produzidas e resultado da vacinação”, disse o infectologista.

Luc destacou ainda que é possível observar isso nos países onde a curva de vacinação é seguida pela curva de mortes e afirmou que está vendo isso de perto, fazendo experimentos com pacientes que foram contaminados com o vírus após serem vacinados. “Estou seguindo isso de perto e estou fazendo experimento no instituto, com pacientes que ficaram doentes com corona após serem vacinados. Eu vou mostrar a vocês que eles estão criando variantes que são resistentes às vacinas”, falou.

Nujoc Checagem, através do Estadão Verifica – Checagem de fatos e desmonte de boatos, verificou o vídeo com as afirmações de Luc Montagnier sobre a vacinação contra o novo coronavírus, onde ela seria a responsável pela criação de novas variantes e o agravamento da pandemia e concluiu que trata-se de um discurso enganoso, visto não haver evidências de que imunizantes de Covid possam favorecer o surgimento de novas cepas ou desencadear fenômeno de ‘aumento de anticorpos dependentes’.

Ao Estadão Verifica, alguns especialistas contestaram as alegações do médico virologista e destacaram que a imunização em massa, ao contrário do que Luc propõe, é uma estratégia fundamental para prevenir o surgimento de novas cepas do vírus.

Ainda durante a entrevista, Luc Montagnier foi questionado se deveríamos estar vacinando durante uma pandemia. Como resposta, ele afirmou que isso seria impensável e que os antivírus produzidos pelo vírus permitem a infecção ficar mais forte. “Eles são silenciosos, muitas pessoas sabem disso, epidemiologistas sabem disso. São os antivírus produzidos pelo vírus que permitem a infecção ficar mais forte. É o que chamamos de Realce Dependente de Anticorpos que significa que os anticorpos ajudam uma infecção. Os anticorpos se prendem ao vírus e a partir desse momento, ele tem receptores, os anticorpos”, falou. Luc finalizou a entrevista afirmando que fica claro que as variantes são criadas por seleções de anticorpos derivados da vacinação.

Alguns pesquisadores sobre o assunto se pronunciaram quanto as afirmações de Luc, como foi o caso da imunologista e professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Cristina Bonorino. Segundo ela, as afirmações do médico não procedem e explica que a vacinação em massa é, na verdade, essencial para reduzir as chances de variantes potencialmente mais perigosas surgirem. Segundo ela, quanto maior a circulação do vírus na sociedade, mais chances de uma nova linhagem emergir.

Cristina ressalta ainda que as vacinas de Covid-19 disponíveis até o momento foram desenvolvidas para prevenir o agravamento da doença e não para impedir a transmissão do vírus. Mesmo assim, esses imunizantes já desempenham um papel importante ao reduzir a capacidade do vírus de se multiplicar na pessoa infectada.

Eduardo Silveira, imunologista e professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo, em entrevista ao Estado Verifica, também excluiu a possibilidade de uma infecção por vacina resultar no surgimento de uma nova variante. Ele explicou que as vacinas contra Covid-19 não tem capacidade de provocar a doença nos pacientes, uma vez que não carregam o vírus enfraquecido.

Já a virologista da Universidade Federal de Minas Gerais, Giliane Trindade, destaca que o cenário favorável para o surgimento de novas variantes é, na verdade, a transmissão descontrolada do vírus. Segundo ela, “quanto menos medidas de proteção uma sociedade adota como uso de máscaras, prática do distanciamento social, vacinação, entre outros, o resultado é uma taxa de alta transmissão”, falou Giliane.

Ao afirmar que as novas variantes produzidas são resultado da vacinação, Luc tem seu discurso descredibilizado por especialistas que afirmam que as vacinas exercem uma pressão seletiva sobre o vírus, mas isso não esvazia os benefícios da imunização para o combate a pandemia e nem torna as vacinas nocivas. Ao contrário, a vacinação em massa tem o potencial de interromper a transmissão e reduzir as chances de novas variantes.

Além disso, a declaração de Luc ainda afirma que os imunizantes promovem um fenômeno chamado “aumento de anticorpos dependentes”, o que, segundo especialistas, não passa de uma associação enganosa já que não existem evidências factíveis de que esse aumento de anticorpos esteja relacionado ao novo coronavírus.

Até o momento não há comprovações ou evidências de que a vacinação cause o surgimento de novas cepas ou o aumento de anticorpos dependentes. O que existe são declarações falsas que descredibilizam a eficácia da vacinação. A entrevista de Luc, por exemplo, é uma delas e conteúdos assim tem sido constante nos últimos dias, se tornando um desafio para os jornalistas que a todo instante, precisam estar desmentindo informações falsas e prejudiciais sobre um assunto tão importante.

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