Desenhos revelam como a pandemia alterou a rotina de crianças cariocas

Publicado originalmente em Covid-19 DivulgAÇÃO Científica por Alessandra Ribeiro. Para acessar, clique aqui.

Pesquisa analisou ilustrações feitas por meninos e meninas com idade de oito a dez anos, enquanto as escolas permaneciam fechadas

Uma menina assiste à aula de música pelo celular. O sol está triste, assim como as crianças que olham do alto da janela dos prédios. Em uma comunidade, pessoas usam máscaras enquanto soltam pipas. Um bruxo congela o coronavírus na tentativa de matá-lo. Cientistas trabalham para criar uma vacina. Com a injeção na mão, um médico consegue aplacar o vírus.

As imagens estão em desenhos produzidos por 20 meninas e meninos com idade de oito a dez anos, que moram em diferentes bairros da cidade do Rio de Janeiro, de situações socioeconômicas distintas. Elas participaram de uma pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Comunicação da Ciência e Tecnologia que avaliou a percepção de crianças em relação à pandemia da COVID-19. 

As entrevistas foram feitas nos meses de julho e agosto de 2020. Nesse período, as atividades econômicas estavam sendo retomadas gradualmente na cidade do Rio de Janeiro, mas as escolas permaneciam fechadas. Todas as crianças participantes indicaram que estavam cumprindo as medidas de distanciamento social em casa, sem visitar nem mesmo parentes e amigos.

Nova rotina

A análise dos desenhos e das narrativas associadas a eles foi feita a partir das seguintes categorias: rotina, sentimentos durante a pandemia, representação do vírus e novos hábitos. A definição considerou os objetivos da pesquisa, as características dos desenhos e as explicações que as crianças deram para eles.

Foram analisados 22 desenhos das 20 crianças (duas crianças fizeram dois desenhos cada). Momentos de estudo, como assistir às aulas on-line ou fazer o dever de casa, e de lazer, como jogar bola e videogame, ver televisão e ler, foram retratados. Ao representar seus cotidianos durante a pandemia, 19 crianças ilustraram aspectos que mudaram em suas rotinas. Cinco crianças representaram cuidados que passaram a ser tomados, como o uso de máscaras. 

Cinco desenhos representaram sentimentos como tristeza e raiva ‒ um deles ilustrou o luto por um vizinho que morreu em decorrência da COVID-19.Três desenhos trouxeram representações do novo coronavírus e outros dois retrataram a morte dele, seja pelo uso da vacina criada pelos cientistas ou pelo congelamento do vírus com o uso de magia. 

Impressões

“Observamos que o uso de eletrônicos ‒ celular, televisão, videogame, computador etc. ‒  foi muito citado e ilustrado. Alguns participantes mencionaram que antes não jogavam tanto videogame, mas, como em casa não tem muita coisa para fazer, estão jogando por mais tempo”,relatam as pesquisadoras Carolina Folino, Catarina Chagas, Luisa Massarani e Marcela Alvaro em um artigo publicado sobre o estudo.

As autoras também observaram que as crianças buscaram se adaptar à situação, demonstraram cautela com a pandemia e indicaram estar conscientes da importância do distanciamento social, do uso de máscara e da higiene pessoal para o enfrentamento da COVID-19. 

As pesquisadoras concluem: “não surpreendentemente, a pandemia também parece ter afetado os sentimentos das crianças de nosso estudo, com muitas delas demonstrando preocupação, medo e até raiva do vírus. Desse modo, as crianças se mostram atentas à complexidade da situação, conscientes das mudanças que ocorreram em suas vidas e preocupadas com a disseminação da doença”.

A análise faz parte de um estudo qualitativo mais amplo com o objetivo de analisar a percepção das crianças sobre o SARS-CoV-2, a COVID-19 e os vírus em geral.

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