Como dez veículos de comunicação negacionistas alimentam 69% da negação digital sobre as mudanças climáticas no mundo

Por Ana Regina Rêgo.

Artigo Também disponível em Portal Acesse Piauí e Jornal O Dia.

O Centro de Combate ao ódio digital dos Estados Unidos (CCDH) publicou no final de 2021 um relatório embasado em uma pesquisa sobre os principais construtores e divulgadores de desinformação sobre o meio ambiente no mundo. 

 O relatório apresenta o  The Toxic Ten,  elencando os dez maiores editores  dedicados à divulgar teorias negacionistas sobre as mudanças climáticas, que invariavelmente, são infundadas e não científicas. As publicações ocorrem em seus próprios sites e nas mídias sociais, onde possuem grande número de seguidores. Como dito, os dez maiores veículos de comunicação negacionistas sobre mudanças climáticas são responsáveis ​​por 69% de todas as interações com conteúdo de negação climática no Facebook. Trata-se de um grande mercado de construção intencional da ignorância, como eu e Marialva Barbosa nomeamos anteriormente, que é em si, uma indústria de propaganda de negação do clima financiada em parte pelo Google por meio de receita de anúncios e espalhada pelo mundo através das mídias sociais, como também pelo Facebook, que permite a monetização da desinformação. 

O CCDH em vários momentos do relatório solicita ao Facebook e ao Google que parem de promover e financiar a negação climática, e comecem a rotulá-la como desinformação cancelando as vantagens em termos de visibilidade e como também de recompensa financeira, das plataformas de mentiras e desinformação.

Para os pesquisadores, estamos vivenciando a maior crise já enfrentada pela humanidade. Através da vontade coletiva, podemos mitigar e evitar os piores impactos das mudanças climáticas. Mas, assim como experimentamos recentemente com a desinformação sobre vacinas e COVID-19, continuamos a enfrentar interesses escusos com participações financeiras, como empresas e autocratas dependentes da receita de hidrocarbonetos, que são incentivados e remunerados por plataformas digitais gananciosas. A negação climática, como a negação de vacinas, ofusca a verdade sobrecarregando-nos com afirmações e perguntas concebidas de má fé para confundir o debate. A ferramenta mais potente desses divulgadores é a mídia social, um fórum público onde o o conteúdo mais extremo, conspiratório e prejudicial é recompensado com amplificação.

Os dez veículos de comunicação mais tóxicos, no que concerne à desinformação climática, identificados na pesquisa do CCDH são os principais produtores de conteúdo responsáveis por plantar o ceticismo das mudanças climáticas, através das plataformas de mídia social, criando a sensação de que há um debate mais amplo do que realmente existe. Eles espalham negações climáticas infundadas e não científicas em seus próprios sites, mas o objetivo real é aproveitar o poder das plataformas de mídia social para espalhar esse ceticismo ao público e impedir o consenso sobre fatos e soluções – mesmo que nossas vidas dependam de ambos, afirma o relatório.

Como dito, os dez veículos mais tóxicos no segmento negacionista sobre o meio ambiente são responsáveis ​​pela maior parte das interações dos usuários do Facebook com conteúdo de negação climática. Apesar das promessas do Facebook de começar a rotular postagens com negação climática e colocar links para informações corretas, a plataforma ainda  não cumpriu a contento tais promessas. Apenas 8% das postagens mais populares no Facebook contendo desinformação do Toxic Ten traziam rótulos.

A maioria dos veículos relacionados no Toxic Ten também é financiada pela receita proporcionada pelas ferramentas de negócios do Google. Os 10 maiores desinformadores/negacionistas das mudanças climáticas geraram até US$ 5,3 milhões em receita do Google Adsense, em apenas seis meses. Os Dez Tóxicos fazem parte de uma eficiente indústria de desinformação sobre negação climática, atingindo 186 milhões de seguidores nas principais plataformas de mídia social, detectados em 2021.

O relatório denomina os maiores editores de desinformação climática de  “superpoluidores”  que atuam em diversas plataformas ao mesmo tempo. São eles: 1) Breitbart, o site de desinformação administrado por Steve Bannon; 2) Western Journal, cujo fundador afirmou que o presidente Obama é muçulmano; 3) Newsmax, um importante promotor de conspirações de fraude eleitoral; 4) Townhall Media, fundada pela Heritage Foundation, financiada pela Exxon; 5) Media Research Center, um “think tank” que recebeu financiamento da Exxon; 6) The Washington Times, fundado pelo autoproclamado messias Sun Myung Moon; 7) The Federalist Papers, um site que promoveu a desinformação sobre a Covid-19;  8) Daily Wire, uma das editoras mais engajadas no Facebook; 9) Mídia estatal russa, promovendo desinformação via RT.com e Sputnik News  e por último na décima posição o Patriot Post, um site conservador secreto cujos escritores usam pseudônimos.

O CCDH analisou 6.983 matérias contendo negação climática do ano passado em postagens no Facebook que tiveram 709.057 interações no total. Para tanto, os pesquisadores usaram a ferramenta de análise social NewsWhip. Essa análise mostra que postagens contendo matérias de apenas dez sites representam o maior número das interações dos usuários no Facebook,  com  conteúdo sobre negação climática. O Facebook não conseguiu rotular 92% das postagens com conteúdo emanado dos dez maiores veiculos desinformadores. 99,05% das interações dos usuários com postagens com conteúdo produzido e divulgado  pelos  Toxic Ten foram com postagens que não continham informações ou rótulos de verificação de fatos. 

Destaca-se que os veículos que compõem o ranking do  The Toxic Ten lucraram cerca de  US$ 3,6 milhões em receita de publicidade do Google em apenas seis meses de 2021. Os sites do Toxic Ten receberam quase 1,1 bilhão de visitas apenas em  seis meses, ganhando aqueles que fazem parte da plataforma AdSense do Google. O dinheiro negociado com os dez veículos negacionistas vem de marcas como Chevrolet, Capital One e a empresa de entregas DHL International, cujos anúncios do Google AdSense foram veiculados em sites Toxic Ten.

Para maiores informações, acesse o site do CCDH https://counterhate.com/

Para ler o relatório na íntegra acesse https://counterhate.com/wp-content/uploads/2022/05/211101-Toxic-Ten-Report-FINAL-V2.511722.pdf

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