Assertividade e comportamento

Publicado originalmente em Jornal Beira do Rio por Matheus Luz. Para acessar, clique aqui.

Experimento avalia respostas assertivas de mulheres perante diferentes interações em um relacionamento

As interações humanas são cercadas de complexidades, muitas vezes moldadas em diferentes contextos e situações. A análise do comportamento observa padrões de comportamento que podem ser divididos em três principais categorias: agressivos, assertivos e passivos. Em síntese, enquanto os comportamentos agressivos e passivos representam dois extremos, o comportamento assertivo significa considerar a opinião do outro e expressar a sua própria opinião ou sentimento, sem desrespeitá-lo, podendo inclusive propor uma resolução para determinada situação ou conflito.

A psicóloga Roberta Coutinho Proença visualizou em seus atendimentos as dificuldades das mulheres na comunicação em seus relacionamentos amorosos, comumente adotando um comportamento passivo. Por esse motivo, a pesquisadora realizou um experimento que teve como objetivo ensinar comportamentos assertivos para mulheres em relacionamentos heterossexuais.

Os resultados do experimento estão presentes na dissertação Efeitos de justificativas sobre a aquisição de respostas assertivas, orientada pela professora Carla Cristina Paiva Paracampo, com coorientação da professora Regina Célia Gomes de Sousa. O trabalho foi defendido no Programa de Pós-Graduação em Neurociências e Comportamento (PPGNC) do Núcleo de Teoria e Pesquisa do Comportamento (NTPC), da UFPA, e foi parcialmente financiado pela Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas do Pará (Fapespa) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

“O ensino se dava por meio de regras que descreviam o que era assertividade e de justificativas, que são motivos ou razões para seguir a regra. Assim, apresentamos as definições de assertividade, vantagens e desvantagens desse tipo de comunicação, justificativas que descreviam motivos para ser assertiva dentro do relacionamento, por meio de uma cartilha, de um vídeo e da história de uma mulher que deixava de apresentar respostas passivas e passava a se comunicar de maneira assertiva, melhorando o seu relacionamento. Depois dessas apresentações, verificamos se isso causou algum tipo de mudança nas respostas das participantes”, explica a pesquisadora.

Voluntárias eram jovens e mantinham relacionamentos de até três anos e 11 meses

A metodologia do experimento foi desenvolvida em três etapas: o pré-teste, a exposição a justificativas dos tipos 1 e 5 e o pós-teste. Participaram voluntariamente 36 mulheres heterossexuais, adultas, com ensino fundamental completo, com idade entre 19 e 30 anos, comprometidas (namorando ou casadas) com outra pessoa no mínimo há um ano e no máximo há três anos e 11 meses.

No pré-teste, as participantes respondiam a um questionário com perguntas pessoais (idade, estado civil, tempo de relacionamento etc.) e, em seguida, assistiam a três vídeos de interações entre casais heterossexuais que apresentavam situações de: recusar pedidos de familiares, lidar com críticas à aparência e pedir mudança de comportamento quando o outro era rude, respectivamente. Cada vídeo durava menos de um minuto e era pausado antes do desfecho, momento no qual era questionado às participantes o que elas fariam naquela situação.

Após a exibição, as voluntárias participavam de três simulações de interações entre um casal, com os mesmos contextos dos vídeos, nas quais as mulheres deveriam responder da mesma maneira que responderiam a seus parceiros. Ao final desta etapa, as mulheres respondiam a um inventário de habilidades assertivas que seria corrigido e pontuado de acordo com os níveis de assertividade das respostas escolhidas.

Com base na pontuação, as mulheres foram divididas aleatoriamente em dois grupos: Grupo Intervenção e Grupo Controle. Na segunda etapa, ao grupo intervenção, eram apresentadas as justificativas do tipo 1 e do tipo 5, por meio de uma cartilha, um texto e de um vídeo, e eram feitas perguntas sobre tal material. As justificativas do tipo 1 descrevem as consequências de seguir regras, enquanto as do tipo 5 descrevem aspectos que a pessoa que está ouvindo a regra deve observar e levar em consideração. O grupo controle não foi exposto ao material, sendo realizada somente a leitura de três poemas que não tratavam do tema assertividade nem relacionamento amoroso.

A última etapa, o pós-teste, teve como objetivo comparar e analisar o comportamento das participantes antes e depois do experimento. Por isso as voluntárias passaram novamente pelos procedimentos do pré-teste: a exibição dos vídeos (com novos contextos, mas com a mesma classe de comportamentos), as simulações e o preenchimento do inventário de assertividade.

A pesquisadora explica que a divisão dos grupos foi feita para facilitar a visualização do efeito das regras e justificativas durante a análise dos dados e das variáveis. “Com dois grupos, poderíamos analisar os resultados em conjunto de mulheres que foram expostas à intervenção e de mulheres que não foram expostas. Se houvesse diferenças entre os grupos, aumentaria a probabilidade de a mudança ter ocorrido devido à exposição às regras e justificativas”, explica Roberta Proença.

Resultados mostram mudança de comportamento

Os principais resultados quantitativos obtidos com o experimento mostram que sete das 18 participantes do grupo intervenção aumentaram a emissão de respostas assertivas, um aumento entre 31,77% e 59,72%. Já no grupo controle, também houve um aumento de sete participantes, mas entre 1,57% e 26,38% de respostas. Nesse sentido, Roberta Proença avalia que algumas variáveis podem ter interferido nos resultados do grupo controle, como a exposição prévia ao pré-teste em que já discutiam respostas assertivas. “Ainda consideramos que as justificativas foram eficazes nesse aumento significativo nas mulheres do grupo intervenção, foi possível observar mulheres que saíram de 18% e foram para 79% de respostas assertivas”, pontua a pesquisadora.

Apesar de o caráter central da pesquisa ser de viés quantitativo, a psicóloga destaca a observação do resultado qualitativo do experimento. Ao final da aplicação do pós-teste, a pesquisadora conta que as mulheres demonstraram como gostaram do aprendizado sobre assertividade, inclusive já utilizando o comportamento na comunicação com seus parceiros. Além disso, até mesmo as mulheres que não demonstraram aumento quantitativo no teste reconheceram a importância de aprender sobre o tema e solicitaram indicações para terapia.

A pesquisadora avalia os resultados obtidos com seu experimento como uma ferramenta que traz uma nova abordagem para terapeutas e pesquisadores. Roberta chama atenção para a importância de múltiplas ferramentas capazes de atender à complexidade de cada indivíduo. A psicóloga ainda destaca a necessidade de aprimorar e expandir seu estudo, visando englobar outros tipos de público, como mulheres lésbicas, mulheres com tempos diferentes de relacionamento, solteiras, com filhos, entre outras, para poder oferecer um instrumento refinado para a aplicação dos profissionais da área.

Beira do Rio edição 159

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