As Olimpíadas muito além das medalhas

Publicado originalmente em Âncora dos Fatos. Para acessar, clique aqui.

A realização de um evento esportivo tem como ponto alto e motivador uma premiação, que pode ser em termos financeiros ou materiais. Nos campeonatos de bairro, nas competições de igrejas e associações, nos jogos escolares, estudantis, recreativos, a vitória de um (a) competidor (a) é oficializada com uma premiação em forma de medalha ou troféu.

Mas, ela nem sempre foi assim. Nos Jogos Olímpicos, foi apenas em 1908, que a tradição da premiação começou a ser feita através das medalhas, dependendo da classificação dos atletas.

Antes disso, nos Jogos da Grécia Antiga, apenas os campeões eram premiados e recebiam uma coroa de louros. Os espectadores arremessavam flores sobre o campeão e amarravam fitas vermelhas na cabeça e nas mãos dele, enquanto o árbitro entregava um ramo de palma e uma coroa de louros, pinho ou ramos de oliveira.

Portanto, a premiação não reluzia ouro, prata ou bronze. Era simbólica, histórica e cultural.

Olimpíadas tecnológicas

Os tempos mudaram. As competições evoluíram. A tecnologia chegou. Hoje, nas Olimpíadas de Tóquio, drones registram as disputas, câmeras gravam até 1.000 imagens por segundo, e o monitoramento em tempo real dos atletas é feito em algumas categorias. Celulares em mãos. Atletas, jornalistas, comissão técnica. Muitos se tornaram influenciadores digitais, atores e espectadores das próprias vidas durante a competição – em tempo real.

As medalhas já não são as mesmas. As dos Jogos de Tóquio, por exemplo, foram feitas a partir de uma iniciativa de reciclagem, a qual assegurou que cada uma fosse moldada inteiramente de metal extraído de aparelhos eletrônicos reciclados nos últimos anos.
Mais reluzentes e desejadas. No compasso da beleza e representatividade, as medalhas são o “sonho de consumo” de todo atleta.

Rebeca Andrade e a medalha da superação

A ginasta medalha de ouro e prata nos Jogos Olímpicos de Tóquio, Rebeca Andrade, tem uma história de ouro. Aos 22 anos, ela acumula desafios, lesões, superação e uma longa jornada de uma menina pobre, negra e que viu as dificuldades de perto ao ser criada apenas pela mãe.

Olimpíadas, Rebeca Andrade e a medalha da superação
(Foto: Rafael Bello COB)

Sobre as vitórias em Tóquio, ela disse que “as medalhas me mostraram que tudo é possível. Todo mundo passa por dificuldades. Eu trabalhei demais para isso. E sou muito grata por tudo e por todos que me ajudaram nessa caminhada. Até as lesões me ensinaram muito”, destaca.

Nem só de medalhas vivem os campeões

Porém, nas Olimpíadas realizadas no país da tecnologia, o peso de garantir uma medalha por vezes ofusca a história da vida real de cada atleta. História que não está gravada no software de um robô, mas na pele, carne e osso de um humano.

A tecnologia exige. As redes sociais cobram. O esporte também polariza. E na contramão, estão milhares de humanos-atletas, com suas histórias de luta e superação para um dicionário próprio que não aceita a palavra derrota.

Até o momento, o Brasil já garantiu 16 medalhas nos Jogos de Tóquio. E o que isso significa? A reflexão. É óbvio que toda vitória é bem-vinda, comemorada e incentivada. Medalha é sinônimo de vitória! E a vitória é alegria.

Estar num pódio olímpico é meta de vida para atletas de alto rendimento que reivindicam muita coisa para se dedicar em tempo integral ao esporte. Relatar a vida de cada um deles não seria possível.

Porém, vale lembrar que uma medalha também não depende exclusivamente de uma única pessoa. Ela é a representação final de tudo que deu certo individualmente e coletivamente, bem como ao redor. Chaveamento de grupos, saúde física, mental, pressão psicológica, competidores e até mesmo a sorte.
Pisar em falso. Cair, ficar doente, ter um parceiro substituto, sequelas da Covid-19, não bater o recorde próprio. Nada disso faz de alguém um perdedor.

Melhor prêmio: a vida!

(Foto: Miriam Jeske/COB)

Engana-se quem pensa, por exemplo, que a maior vitória do jogador de vôlei de praia, Bruno Schmidt, seja a medalha de ouro nas Olimpíadas Rio 2016. Em 2021, Bruno venceu 13 dias internado, sendo cinco deles na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), devido à Covid-19. Em Tóquio, sua medalha foi a vida!

Medalha do desabafo

No Japão, esse ano, o Brasil não garantiu nenhuma disputa por medalha no vôlei de praia. Todas as duplas, as quais eram expectativas positivas para a modalidade, deixaram a competição.
Entretanto, sem dúvidas, a medalha da representatividade do vôlei de praia veio através da fala de desabafo do jogador Alison Cerutti. Campeão olímpico nas Olimpíadas Rio 2016, ele opinou, se posicionou e revelou o que há por trás do vôlei de praia no Brasil.

(Foto: Gaspar Nóbrega/COB)

“O mundo está capotando e a gente está parado. Não é só trazer time para o Mundial. É ter um circuito forte, valorizar as comissões técnicas, valorizar o centro de treinamento, valorizar as categorias de base. Quem banca nosso centro de treinamento somos nós, 17 funcionários. Isso não é desculpa para a derrota. Mas o mundo está evoluído e nós estamos parados na década de 1990”, disse ele sobre a falta de incentivo na sua modalidade. Alison não garantiu ouro, prata ou bronze.

Mas a medalha é do posicionamento, porque atleta não é robô e tem história.

Campeões no pódio das Olimpíadas

Foto: Patrick Smith/Getty Images

Rebeca Andrade. Ítalo Ferreira. Martine Grael. Kahena. Ana Marcela. Rayssa Leal. Kelvin. Bruno Fratus. Fernando Scheffer. Mayra Aguiar. Daniel. Luísa Stefani. Laura Pigossi. Abner Teixeira. Bia Ferreira. Alison dos Santos. Thiago Braz. Pedro Barros. Eles e elas são, por enquanto, a representatividade brasileira que subiu ao pódio na vitoriosa trajetória olímpica em 2021.

Mas, ganhar nem sempre é estar no topo e poder desfilar com uma medalha. Por décimos, centésimos, por um ponto, por um segundo. O tempo voa…e as Olimpíadas de Paris batem às portas para o recomeço.

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